Tríplice aliança sufoca PT em Santa Catarina

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Por Cintya Ramlov

Faltavam 9 dias para o segundo turno quando Dilma Rousseff, candidata a reeleição pelo Partido dos Trabalhadores, desembarcou em Santa Catarina para sua única visita ao Estado durante a campanha. No alto da passarela que dá acesso ao Centro de Convenções de Florianópolis, um militante agita uma bandeira com um grande número 13 impresso em vermelho. Ao som do jingle “Coração Valente”, a fila se forma já na calçada enquanto mais bandeiras e milhares de adesivos são distribuídos – aquele com a foto da presidenta em época de estudante e guerrilheira da ditadura é o mais cobiçado. Dilma apareceu no local perto das 11:30 da manhã. Seu vice Michel Temer (PMDB) abre o comício avisando que segue a Curitiba, onde a comitiva estará à tarde. No palanque, Cláudio Vignatti, candidato do PT ao governo do Estado ao lado do governador reeleito Raimundo Colombo (PSD). A militância ovaciona o primeiro, mas parte vaia o segundo, assim como o senador eleito Dário Berger (PMDB) e o prefeito da capital César Souza Júnior (PSD).

A animação dos militantes que lotam o auditório aos berros de “Dilma, eu te amo!” reflete menos o complicado cenário eleitoral do PT em Santa Catarina que a esquizofrenia do palanque. O desempenho do partido no primeiro turno foi pífio: apenas cinco deputados estaduais e dois federais. Candidato ao governo em chapa pura, Vignatti alcançou 15% dos votos. Para a presidência, o candidato tucano teve no Estado o maior percentual do país, 52,9% contra os 30% da petista. O partido não ganhou em nenhuma das principais cidades catarinenses. O melhor desempenho foi no oeste, região onde tem tradição, porém seus votos não conseguem competir com a maioria tucana do litoral e do Vale do Itajaí. Atualmente, apenas 54 prefeituras são petistas – o PMDB tem 106.

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A rejeição catarinense ao Partido dos Trabalhadores é histórica. Nunca um candidato a governador chegou sequer ao segundo turno. O melhor resultado ocorreu em 2002 com 834 mil votos para José Fritsch, ainda atrás de Luís Henrique da Silveira (PMDB) e Esperidião Amin (PP). No mesmo ano, Lula obteve vitória no estado com vantagem de mais de um milhão de votos sobre José Serra (PSDB). Por decisão do líder do partido na época, Afrânio Bopré (atual PSOL), o PT não se aliou ao governo pemedebista (coligado com o PSDB na disputa presidencial). Este ano, Claudio Vignatti afirmou em entrevista ao Diário Catarinense  que considera a decisão equivocada.

No pleito de 2006, a inédita coligação entre PMDB e PFL (atual DEM) uniu forças políticas importantes do estado – o governador e os Bornhausen – e também tinha o apoio do PSDB, do na época senador Leonel Pavan. Como afirma o jornalista de política do Diário Catarinense Upiara Boschi, “a inacreditável tríplice aliança foi fundamental para isolar o PT em Santa Catarina.” José Fritsch alcançou novamente o terceiro lugar na disputa do governo, com cerca de 470 mil votos. Aos petistas restou novamente a oposição, onde existia domínio político do PP de Amin. Em 2010, a “tríplice aliança” continuou forte e elegeu Raimundo Colombo ao governo junto com Luís Henrique e Paulo Bauer (PSDB) para o senado. As candidaturas petistas foram de Ideli Salvatti para governadora e Vignatti para senador.

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Para Upiara Boschi, o PT catarinense saiu dividido da campanha de 2010. Não eleitos (apesar dos 1,2 milhão de votos conquistados por Vignatti), seus principais candidatos não tinham nenhum cargo. Ideli passou por dois ministérios. Segundo Upiara, a divisão interna do partido entre Vignatti e Ideli foi decisiva para o desempenho nas eleições deste ano. A ex-senadora defendia aproximação do partido com o governo Colombo, porém o candidato à reeleição acreditava que a aliança com o PT prejudicaria sua campanha, inviabilizando a articulação de Ideli. Os petistas catarinenses então decidiram pela candidatura própria de Vignatti, sem conseguir alianças. O PT nacional não apoiou, e a campanha sofreu com falta de recursos (na segunda parcial da prestação de contas, o candidato declarava R$ 270 mil arrecadados; Raimundo Colombo tinha R$ 3,5 milhões). O resultado de 534 mil votos, 15% do total, foi menor que os 21% conquistados por Ideli em 2010.

No comitê especial montado pelo diretório catarinense do Partido dos Trabalhadores, o mau desempenho no primeiro turno significou ainda mais trabalho. Em meio a caixas cheias com broches em formato de estrela vermelha, bandeiras coloridas com o logotipo de Dilma Rouseff e pilhas de adesivos e santinhos, militantes continuam produzindo material de campanha. O presidente municipal do partido, Cadu, confirma que o principal obstáculo do PT nos últimos anos foi a “tríplice aliança”. Para ele, a candidatura também foi prejudicada pelas pesquisas divulgadas na mídia local “que apresentava o candidato como uma não opção” com intenções de voto abaixo do resultado obtido nas urnas.

Militantes do núcleo jovem do PT apontam razões históricas e sociais para entender a baixa votação. Enquanto recortava um estêncil do rosto de Dilma da década de 1960, o estudante Maurício Carvalho explica que “nos tempos recentes as políticas públicas do governo federal privilegiaram uma classe que é menos favorecida, e os catarinenses não foram tão afetados como o nordeste, por exemplo.” Para ele, o partido e o governo falham ao não divulgar as medidas voltadas à classe média – que em Santa Catarina corresponde a 64% da população, maior porcentagem do país, segundo levantamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo (SAE). A estudante Tayliny Batistella busca explicação histórica, e acredita que o fato de a colonização catarinense ter acontecido de maneira diferente do restante do país, priorizando o povoamento ante a exploração, colaborou para a ausência de grande força sindical e movimentos sociais no estado – a principal base da militância petista. Tayliny também afirma que a despolitização dos eleitores prejudica. “A grande mídia está há 12 anos bitolando a população, dizendo que político é tudo igual.”

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