Mergulho nos trabalhos do Tamar

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Projeto auxilia na preservação de tartarugas-marinhas e do meio ambiente pela educação ambiental

 – Pablo Mingoti – 

As tartarugas são uma subclasse de répteis, muito antigos, que surgiram cerca de 200 milhões de anos. Sete espécies marinhas vivem nas águas tropicais e sub-tropicais dos oceanos e nadam centenas de quilômetros à procura de comida ou local para pôr os ovos. No Brasil, há cinco tipos e todos ameaçados de extinção. São elas, a tartaruga-cabeçuda, tartaruga-de pente, tartaruga-verde, tartaruga-oliva e tartaruga-de-couro. Porém, em toda a costa brasileira existem pessoas que auxiliam na conservação desses animais através do Projeto Tamar. A base em Florianópolis, na Barra da Lagoa, conta com diversos profissionais que se dedicam diariamente à realização de pesquisas, tratamento de tartarugas feridas e doentes e conscientização ambiental.

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Camila trabalha há oito anos no Tamar. Foto: Banco de Imagens/Projeto Tamar

Desde o início da graduação, Camila Trentin já sabia que trabalharia no Tamar. Ao ser aprovada no curso de Ciências Biológicas, ela ganhou de presente uma viagem para o Espírito Santo, lugar em que teve o primeiro contato com estes répteis fascinantes. Iniciou a carreira através de um estágio na base em Florianópolis e a paixão pelas tartarugas a fez permanecer no projeto. Atualmente, Camila ocupa o cargo de gestora de pessoas no Centro de Visitantes. “É de minha responsabilidade que os funcionários estejam devidamente capacitados para sensibilizar o público e manter a estrutura física e integridade dos animais. Auxilio também no setor veterinário, bem como coleta de algas, exposições externas e demais eventos”, descreve. Ela destaca que o mais difícil é sensibilizar o público e atuar com recursos financeiros limitados. “Mas é uma recompensa quando você vê pessoas que estão realmente preocupadas em fazer a diferença e apoiar a causa”, observa.

Banco de Imagens/Projeto Tamar

Banco de Imagens/Projeto Tamar

Os Centros de Visitantes funcionam como núcleos de pesquisa e divulgação da vida marinha, além de oferecer lazer e serviços. O público tem um perfil familiar e há um crescimento de pessoas especiais, idosos e turistas de muitas nacionalidades. Através de tanques, aquários e painéis informativos que Eduardo Livramento, supervisor de atendimento, explica aos visitantes a forte interferência humana na vida dos animais e no meio ambiente. Qual é a expectativa de vida? Quais são as principais causas de morte?  Algum dia elas serão liberadas ao mar? Essas são as perguntas mais frequentes. Ele narra o encanto das crianças que em todos os finais de semana podem ajudar a dar banho e alimentar as tartarugas. “Esta interação é muito importante, pois encurta a distância entre homem e natureza”, acredita.

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Durante a graduação em Ciências Biológicas, Daniel Rogério teve o sonho de trabalhar no Projeto Tamar adiado quando o programa de estágios em Florianópolis foi cancelado. Porém, depois de formado surgiu uma oportunidade de trabalho como monitor e hoje é executor técnico na base da Barra da Lagoa. “Cada dia é uma atividade diferente. Desde lidar com grupos e escolas e com o público em geral, até auxiliar nos procedimentos veterinários e no manejo dos animais em cativeiro”, aponta.

O Tamar se destaca pelo trabalho de pesquisa e contribui para o conhecimento da população de tartarugas marinhas com informações relacionadas às áreas de reprodução, alimentação e desova. Além das análises, desde 2001, o Projeto executa o Programa Interação Tartarugas Marinhas e Pesca com o intuito de diminuir o impacto da pesca artesanal. “A principio é feito um trabalho de educação ambiental com as comunidades pesqueiras e depois de entender a importância do animal no ecossistema, eles trazem todas tartarugas que são capturadas em suas redes ou anzóis para serem tratadas em centros veterinários. A parceria é muito importante já que a pesca incidental ainda é uma das maiores causas de morte”, salienta o supervisor Eduardo. Outras causas que colocam as cinco espécies encontradas no Brasil em ameaça de extinção são a interferência do homem através de destruição de habitats, produção de lixo, exploração de recursos naturais e introdução de espécies exóticas, aquelas que se encontram fora de sua área de distribuição ambiental  e causam ameaças a biodiversidade local.

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O ciclo de vida destes répteis é complexo, pois utilizam diferentes ambientes ao longo da vida. Embora, sejam marinhas, a areia da praia serve como lugar de desova que no Brasil acontece do norte do Rio de Janeiro para cima, em áreas mais quentes. “Aqui no sul, não temos uma área de desova, estamos em uma área de alimentação para esses animais. Então recebemos em sua maioria tartarugas juvenis que estão próximas aos nossos costões, se alimentando”, observa o executor técnico, Daniel. Ao nascerem, os filhotes rumam imediatamente para alto-mar e assim permancem, por vários anos, migrando pelo o oceano.

Mas hoje o homem interfere no processo natural de extinção das espécies com a pesca incidental, trânsito de veículos nas praias de desova, destruição do habitat e a poluição dos oceanos. De cada mil filhotes, somente um ou dois conseguem atingir a maturidade. E quando tartarugas feridas são encontradas nas praias de Santa Catarina, são levadas para o Tamar e reabilitadas. “Após receberem alta veterinária, e estarem aptas a passar pelo processo da soltura pública, marcamos os dias em que atingiremos o maior número possível de pessoas, para trabalhar educação ambiental. Geralmente realizamos aos sábados e feriados. Caso uma tartaruga não esteja apta a passar por este processo, ela é solta sem a presença do público”, assinala Camila Trentin, gestora do Centro de Visitantes.

E a cerimônia de soltura é emocionante. Um monitor revela em um mega-fone curiosidades do animal que, se estiver calmo, pode ser tocado no casco pelo público. Depois, a tartaruga reabilitada é colocada na areia para que se habitue ao local e siga o caminho até o mar sozinha. “É um momento para sensibilizar a população. Com essas ações, protegemos indiretamente diversos outros animais marinhos e terrestres”, salienta Daniel.

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Camila, Eduardo e Daniel são algumas das pessoas que se unem para proteger as tartarugas marinhas do Brasil. Ao todo são 25 bases do projeto que protegem cerca de 1.100 quilômetros de praias, de Santa Catarina até Fortaleza. O patrocínio é realizado pela Petrobras e é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-TAMAR, instituição privada sem fins lucrativos e o ICMBio, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade que é uma autarquia especial do Ministério do Meio Ambiente. Além dos funcionários efetivos, a cada temporada de desova mais de 200 estagiários de universidades brasileiras e estrangeiras são capacitados e aperfeiçoam seus conhecimentos nas áreas de Biologia, Engenharia de Pesca, Medicina Veterinária, Oceanografia, entre outras. O Tamar é conhecido internacionalmente como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha do mundo. “São 35 anos de luta para a conservação das tartarugas marinhas e 25 milhões de filhotes liberados no mar. Sem a ajuda das pessoas que passam pelos nossos Centros de Visitantes não conseguiríamos fazer tanto pela conservação dos oceanos”, enfoca o executor técnico Daniel Rogério.

 

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